quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Dissertação Tradicional




A dissertação é o tipo de texto que utilizamos sempre que queremos debater uma assunto ou tema. Isso quer dizer que o texto dissertativo é, em princípio, o lugar em que as ideias são  apresentadas, discutidas, refutadas, confirmadas, exemplificadas, enfim, é o palco em que o livre pensamento se apresenta.
A dissertação tradicional deve conter:

1) INTRODUÇÃO OU APRESENTAÇÃO – é o momento do texto em que você vai informar o seu leitor (em geral, hipotético) sobre o assunto que você vai discutir. No contexto dos vestibulares e concursos, esse assunto (ou tema) é imposto a você;

2) DESENVOLVIMENTO OU ARGUMENTAÇÃO – é a parte do texto dissertativo em que você coloca em debate a questão tematizada. No processo de argumentação, você deverá, seguindo as orientações do recorte temático, desenvolver sua linha de raciocínio de forma lógica e coerente;

3) CONCLUSÃO – é o final do texto dissetartivo. Em geral, nessa parte da dissertação fazemos as considerações finais, mostrando ao leitor que a tarefa proposta pelo tema foi levada a cabo com eficiência.

Logicamente, essas partes não correspondem a parágrafos. Pode acontecer de a primeira parte (a introdução) ser escrita em um único parágrafo, mas não há regras que determinem o número  de parágrafos de um texto. O bom senso diz que cada núcleo de ideia deve ocupar um parágrafo.


Agora, é só colocar mãos à obra. Bons textos!




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Nova acentuação dos grupos OO / EE

 



Quem nunca levou um  ralo (ainda existe essa gíria?) por ter se esquecido de acentuar vôo ou vêem?
Quem nunca ouviu um(a) professor(a) histericamente reforçar o primeiro O de en- jÔ – o, quase deixando a goela aparente, para reforçar a ideia (agora sem acento) de que esse O tinha um circunflexo?
Pois bem, histerias como essa são coisas do passado. Caiu o acento do primeiro O ou do primeiro E em palavras como creem, veem, voo e enjoo. Vale lembrar (como sempre) que a pronúncia não mudou.

Cabem também alguns outros lembretes, pois sei que muitos leitores e alunos ruminam essa dúvida: TEM e VEM continuam recebendo acento para indicar plural. Exemplos: Ele tem / Eles têm - Ela vem / Elas vêm .
Sei de uma pessoa neurótica (não, não sou eu) que continua acentuando o primeiro O de vôo e logo depois apaga o acento porque acha "hediondo", "quase um crime" não acentuar essa palavra...
Amigos leitores, não vale a pena lutar contra essas regras ortográficas (ou contra as mudanças delas), por mais que pareçam descabidas. Aceitem-nas e sigam em frente, acertando sempre!


 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Acordo Ortográfico - 2

Com o novo acordo ortográfico, alguns acentos diferenciais (aqueles que serviam para desfazer qualquer possível confusão) não serão mais usados. Vejamos:

ANTES: pára (verbo), pêlo (cabelo), péla (verbo), pêra (fruta) e côa (verbo).

AGORA: para, pelo, pela, pera e coa.
Parece lógico dispensar esses acentos: afinal, o contexto é mais que suficiente para dirimir qualquer dúvida que possa haver. Ninguém imaginaria, por exemplo, que em uma frase como: "A moça foi elevada pelos cabelos" que a palavra PELOS fosse um verbo e não uma preposição com artigo, não é mesmo?

Entretanto, alguns acentos diferenciais foram mantidos. São eles:

Pôr (verbo) para diferenciar de Por (preposição)

Pôde (passado) para diferenciar do presente Pode

Fôrma (substantivo) para diferenciar da forma verbal Pode.
 
 
  
 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 13

Veja o anúncio de emprego ao lado: "Precisa-se de rapaz e moça maior". Logicamente você já percebeu o erro: deveria estar grafado: "rapaz e moça maiores", pois o adjetivo se refere aos dois, e não somente à moça.

Atenção à concordância nominal!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Errei, e Agora?

Hoje vou responder a estas perguntas (que me fazem recorrentemente):

1-"O que eu faço se eu errar ao passar a limpo a minha redação? "

2- "Posso usar corretivo líquido no texto, se eu errar?"

3- "Se eu errar uma palavra, posso colocá-la entre parênteses para indicar que eu me enganei?"


Pois bem: são perguntas diferentes, mas todas demonstram que os alunos querem saber qual é o procedimento correto caso cometam algum erro no texto definitivo (aquela versão que será apresentada para correção).

A resposta é bem simples: se acontecer de você errar uma palavra, ou mesmo um trecho, simplesmente passe um traço sobre o conteúdo errado e reescreva na frente a forma correta. Veja os exemplos:

a) "A caza casa era grande".

b) "As ideias eram muito boas foram bem elaboradas e, porisso, por isso, mereceram elogios".

Hipoteticamente, imagine que os produtores das passagens acima tenham querido mudar uma ideia (caso b) ou tenham se dado conta de que haviam cometido um erro de escrita (caso a e também b). A única coisa que eles precisam fazer é colocar um risco sobre a palavra ou trecho que deve ser desconsiderado e escrever na sequência a forma correta. Só isso!

Não é necessário rasurar o texto com rabiscos e borrões na tentativa de esconder o erro. Os corretores não levarão em conta o trecho que foi riscado: eles entendem que "errar é humano", como diz o pensamento popular!

Alguns acham (e já ouvi dizer que há quem ensine esta bobagem...) que devemos apenas colocar a palavra errada ou o trecho abandonado entre parênteses, para indicar que ele deve ser desconsiderado... Ora: uma das funções dos parênteses é acrescentar ideias, e não suprimi-las. Colocar o trecho descartável entre parênteses pode gerar sérios problemas de sentido ao texto!

Para finalizar, quero ressaltar que o uso de corretivos é proibido nas provas (pelo menos na maioria delas).

Sinta-se livre para corrigir o texto com elegância e limpeza!




terça-feira, 16 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 12

Na foto ao lado, parece que alguém confundiu residência com residencial. Uma simples leitura em voz alta teria sido suficiente para evitar o ridículo da situação, você concorda? Essa placa diz muito sobre o nível de alfabetização neste país!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 11

Qual é a finalidade dos sinais de pontuação? Eles servem (entre outros fatores) como facilitadores da leitura e, consequentemente, da decodificação da mensagem que se pretendeu transmitir por escrito.

Na faixa ao lado, faltam vírgulas que, de acordo com as normas, são obrigatórias após vocativos. Assim, o correto é:

"Pedestre, atravesse na faixa!" e "Motorista, respeite o pedestre!"

Como alternativa, podem-se usar os dois pontos em vez de vírgulas, o que tornaria a passagem ainda mais expressiva. Assim:

"Pedestre: atravesse na faixa!" e "Motorista: respeite o pedestre!"

Há recursos de expressão abundantes em Português. Faça uso deles e crie textos mais interessantes!



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Acordo Ortográfico - 1

Com o recente acordo ortográfico, os ditongos abertos (éi) e (ói) em palavras paroxítonas já não recebem o acento. Veja os exemplos:

antes do acordo: jóia - agora: joia
antes do acordo: idéia - agora: ideia
antes do acordo: jibóia - agora: jiboia

Assim, a palavra Lindoia na placa ao lado não leva mais acento.

Fique atento à nova ortografia!



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sicrano ou Siclano?

Já passei por muitas situações hilariantes por "nadar contra a maré" e insistir (como cabe aos professores de Português...) em usar a forma correta de algumas palavras (conforme a tradição gramatical). Certa vez, pedi à balconista da padaria "dez pãezinhos". Para meu espanto, a moça riu e repetiu em tom de correção: "dez pãozinhos"... Logicamente, o plural de "pãozinho" é  "pãezinhos", mas ela achou (imagino) que soava mal dois momentos plurais em uma mesma palavra.

Outra situação cômica envolveu a palavra "sicrano". É isso mesmo: o correto não é "siclano", mas sicrano, por mais que soe estranho aos ouvidos ou pareça errado. A frase era mais ou menos assim: Não foi o Fulano quem fez isso; foi o Sicrano... E os olhares de reprovação não cessaram até que eu expliquei, deliberadamente, percebendo a dúvida que pairou no ar, que o correto é sicrano, com R mesmo, e que essa palavra, de origem popular, significa em geral a segunda pessoa de uma tríade (Fulano, Sicrano e Beltrano). Aproveitei a ocasião e acrescentei que se escreve com S e não com C.

Fica aqui a dica: se perceber que vai causar dúvida nos ouvintes, mude a palavra no contexto, para não acontecer de você estar certo e aparentar ao olhar da opinião que está errado. Está valendo o ditado que diz que "é melhor prevenir do que remediar" (embora a regência correta neste dito popular deva ser "preferível prevenir a remediar").


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Como Abreviar Horário?

É bem simples a abreviação dos horários:

1- Usamos o(s) algarismo(s) correspondente(s) à hora;

2- Em seguida, colocamos a abreviação h (hora), min (minutos) ou s (segundos).

Exemplo: Ele chegou às 14h e 10min .

Note que a abreviação h deve ser escrita "colada" ao algarismo, sem ponto final.

 Esse é o modo de abreviar convencionado como correto. Mas nem sempre as pessoas seguem esses parâmetros. Veja o anúncio ao lado, afixado em um grande atacadista:


É mais econômico escrever dentro das normas:

das 7h às 22h / das 8h às 18h





segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 10

 Conheço uma pessoa (culta, instruída, internacionalmente premiada) que, em início de carreira como executivo, dizia "interpletação" de texto, e não a forma correta "interpretação", porque achava que esse "pre" podia estar errado... Ele mesmo me contou, rindo de si mesmo, essa passagem de sua vida (e não pediu segredo)!

Acho que o que ocorreu no cartaz ao lado foi o mesmo "fenômeno": quem escreveu o anúncio promocional deve ter achado que faltava algo em "bandeja" (a forma correta), e acabou colocando um i onde não havia.

A palavra bandeja é derivada do verbo bandejar, e significava, inicialmente, uma espécie de abano de palha que se usava para limpar cereais, especialmente o trigo. Modernamente, usamos esse vocábulo para designar aqueles tabuleiros para serviço de mesa. Mas sem i, não esqueça!








quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O que é catacrese?

Provavelmente, você já aprendeu na escola que Catacrese é uma figura de linguagem. E aprendeu certo: é um recurso de estilo em que ampliamos o sentido de uma palavra em um processo de analogia. Em outras palavras: catacrese é o uso de uma expressão com significado além daquilo que em geral costuma significar. Veja o exemplo retirado da obra D. Casmurro, de Machado de Assis:

"Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as em casa a José Dias, que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, recitou lentamente o discurso, pesando as palavras, e confirmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia."

O verbo espalhar, em seu sentido estrito, quer dizer "separar a palha de algo (de um cereal, por exemplo)". É o mesmo que despalhar. Porém, no trecho acima, Machado de Assis usou o verbo espalhar (por analogia) com o sentido de divulgar a notícia, como se ela fosse sendo lançada ao vento tal qual a palha que se retira de algum vegetal, dispersando-se.

Nesse sentido, a catacrese é um processo metafórico. De fato, o uso desgastado de algumas metáforas acabaram configurando catacreses: pé da mesa, bico do bule, braço do sofá, dente de alho, entre tantos outros.

É provável que essas utilizações sejam originadas pela falta de uma palavra específica para expressar aquilo que se pretendia dizer. É por isso que se considera catacrese um uso impróprio ou até abusivo de uma palavra. Aliás, em grego (Katákhresis) significa exatamente mau uso.

Em todo caso, a catacrese é um uso criativo e adaptativo a que os falantes da língua recorrem, segundo convém, para suprir uma lacuna no sistema linguístico que nem sempre disponibiliza todas as expressões necessárias para designar as coisas.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 9

Antes de numeral, só ocorre crase se ele estiver indicando hora. Desse modo, na placa ao lado há um erro no uso do acento grave. O correto é: "Retorno a 500 m" . É bom acrescentar que a abreviação de metros é um m minúsculo sem ponto. Fique atento!

Leia toda a série "Polícia da Língua".



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Crase

Crase é a combinação de dois sons idênticos e, em seguida, a contração desses sons. Em português moderno, ocorre crase com dois as (aa), em que o primeiro a é uma preposição e o segundo um artigo feminimo, um pronome demonstrativo ou a palavra aquele(a(s)). Veja os exemplos:

1- Chegarei às 10 h (preposição a + artigo as);
2- Ele não se referiu a esta caneta, mas à do seu irmão (preposição a + pronome demonstrativo a);
3- Ele foi àquela cidadezinha novamente (preposição a + aquela).


Na placa ao lado, na locução à esquerda de fato há crase de uma preposição + um artigo (aa). Porém, na expressão circulada só ocorre um artigo, pois o verbo manter não exige a preposição a. Quem mantém, mantém algo (no caso, a direita). Só haveria crase nessa locução se o verbo fosse acompanhado de um pronome (Mantenha-se à direita). Para mais um exemplo, clique aqui.



 
Fiz até aqui algumas breves explicações de crase para fins didáticos, o que interessa ao estudante da língua materna por diversos motivos, entre eles o fato de que crase é um dos tópicos gramaticais exigidos nos exames e concursos.

Mas, para além dessa descrição sincrônica, quero satisfazer a curiosidade daqueles que se interessam pelo fenômeno da linguagem um pouco mais a fundo.

Quando estudamos Gramática Histórica (ou Linguística Diacrônica), deparamo-nos com o fenômeno da crase no transcurso evolutivo da língua, entendida como a fusão de duas vogais idênticas, quaisquer que sejam. Observe o exemplo:

Considere a palavra pede (do latim). Essa palavra perde o d e vira pee. Por crase, os dois ee se fundem, o que origina pe, que modernamente é . Costumamos demonstrar o percurso assim: pede > pee > pe > (em que o sinal > significa evoluiu para). Interessante, não?

A título de curiosidade, quero finalizar lembrando que em Grego a crase é representada por um sinal diacrítico chamado corônis ('), igualzinho ao apóstrofo, que é colocado em cima da vogal em que há contração, diferentemente do caso da nossa língua, em que usamos o acento grave (`) para indicar crase.




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

"Polícia da Língua" - 8


Sempre que usamos o acento grave (`) indicador de crase, assinalamos que ali há dois as (aa), como nos exemplos:

1) "Fui aa padaria", grafamos "Fui à padaria";

2) "Maria está aa porta", escrevemos "Maria está à porta".

Mas na placa de advertência ao lado, alguém exagerou: não existem ali dois as, mas um só. O correto é escrever "Reduza a velocidade". É melhor não pecar pelo excesso...

Veja toda a série "Polícia da Língua".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Eufemismo e Disfemismo

Eufemismo é uma figura de linguagem que consiste na atenuação (suavização) de uma informação, por considerá-la demasiadamente imprópria para ser escancarada, seja por que motivo for (superstição, pudor, ética...). Leia o exemplo de eufemismo que retirei da Carta que Pêro Vaz de Caminha escreveu quando os portugueses chegaram ao Brasil, considerada a certidão de nascimento da Literatura Brasileira:

"(...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças bem novinhas e gentis, com cabelo mui pretos e compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha."

No excerto, ocorre duas vezes a palavra vergonha: na primeira vez em que é usada ("suas vergonhas"), essa palavra está em sentido conotativo, figurado: significa órgãos genitais, que foram eufemisticamente renomeados de "vergonhas". Já na segunda aparição da palavra vergonha ("não tínhamos nenhuma vergonha"), o vocábulo está em seu sentido literal, denotativo, significando que eles não ficaram encabulados com o que viram.

O contrário de eufemismo é o disfemismo, ou seja, a utilização de palavras grosseiras em vez de termos mais comuns para se referir a algo. Para exemplificar, considere as frases seguintes:

1- Maria faleceu.

2- Maria descansou desta vida.

3- Maria "bateu as botas".

Na frase 1, ocorre o uso denotativo da linguagem. Nas frases 2 e 3, ocorrem conotações. A diferença é que, em 2, há um eufemismo, enquanto que em 3 há um disfemismo.



quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Polícia da Língua" - 7

Estava em viagem quando me deparei com este pequeno cartaz afixado em um estabelecimento comercial. Não resisti e acabei trazendo para você, leitor, refletir um pouquinho sobre o uso dos sinais de pontuação. Para que eles servem? Obviamente, a pontuação deve ser bem utilizada, entre outros fatores, para facilitar a decodificação da mensagem. Mas neste nosso exemplar, para além disso, o produtor do texto usou os sinais como ... decoração da mensagem! Notou que os dois pontos foram usados três vezes, a rigor, sem necessidade? Vale a pena observar também o ponto final após um ponto de exclamação: haja neurose... Não pude deixar de associar essas utilizações, digamos, tão particulares dos sinais de pontuação a certa manifestação de um fenômeno psiquiátrico chamado toque! Bem, para finalizar, não poderia deixar de mencionar a ausência de acento na palavra água. Enfim, o cartazinho ficou pitoresco , mas nada digno de imitação... É bom ter cuidado com a criatividade fora de lugar!


terça-feira, 26 de julho de 2011

Os Dêiticos

Chamamos de dêiticos os elementos linguísticos que fazem referência ao falante, à situação de produção de um dado enunciado ou mesmo ao momento em que o enunciado é produzido. Em geral, funcionam como dêiticos os pronomes pessoais e demonstrativos, bem como os advérbios de lugar e de tempo, elementos que evidentemente se encarregam de "embrear" o enunciado, situando-o no contexto espaço-temporal em que se realiza.

Trata-se, pois, da utilização de palavras apontando para a situação em que o discurso é materializado. Por isso, é indispensável que haja o conhecimento partilhado dessa situação de produção para que os elementos dêiticos façam sentido na interação comunicativa.

Dependendo da localização do referente, um elemento linguístico pode ser classificado como dêitico ou como anafórico. Se o referente se localizar no texto, então o elemento que é usado para referir-se a ele é uma anáfora. Neste caso, ocorre uma remissão a um referente anteriormente citado e, por isso, passível de ser reconhecido pelo interlocutor.  Mas, estando o referente na situação comunicativa imediata, então o elemento linguístico de que se vale para apontá-lo é um dêitico.

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Polícia da Língua" - 6


Mesmo os grandes meios de comunicação, assessorados por profissionais competentes, vez ou outra deixam passar erros de escrita. Veja o vacilo do famoso site de notícias (que vou manter anônimo aqui por questão de ética): esqueceram-se da preposição EM. O correto é escrever: "Estúdio cria casa em que todos os ambientes têm prateleiras". Outro modo de corrigir o problema linguístico apontado é pelo uso da palavra ONDE: "Estúdio cria casa onde todos os ambientes têm prateleiras".






quinta-feira, 21 de julho de 2011

"Polícia da Língua" - 5

Existe uma máxima que diz que "uma imagem vale por mil palavras". Esta fotografia confirma a máxima: ela fala por si mesma!

Conselho 1 - revise o texto antes de torná-lo definitivo;
Conselho 2 - contrate os serviços de quem domina a norma culta se o trabalho envolver escrita.




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Redondilha Maior e Redondilha Menor

Chamamos de Redondilha Maior o verso com sete sílabas poéticas, e de Redondilha Menor os versos de cinco sílabas. As redondilhas foram muito usadas no Trovadorismo e no Humanismo em Portugal. As Cantigas Medievais e também o teatro vicentino se fizeram com amplo uso desse tipo de verso, que só foi preterido (pelo menos em parte) quando Sá de Miranda introduz em Portugal a Medida Nova, ou seja, os versos decassílabos em sonetos. Abaixo, deixei para você um exemplo de poema (três estrofes apenas de  Labirinto) em redondilha escrito por Camões:


Cor/re/ sem/ ve/la e/ sem/ le/me
o tempo desordenado,
dum grande vento levado;
o que perigo não teme
é de pouco exprimentado.
As rédeas trazem na mão
os que rédeas não tiveram:
vendo quando mal fizeram
a cobiça e ambição
disfarçados se acolheram.

A nau que se vai perder
destrue mil esperanças;
vejo o mau que vem a ter;
vejo perigos correr
quem não cuida que há mudanças.
Os que nunca sem sela andaram
na sela postos se vêm:
de fazer mal não deixaram;
de demónio hábito têm
os que o justo profanaram.

Que poderá vir a ser
o mal nunca refreado?
Anda, por certo, enganado
aquele que quer valer,
levando o caminho errado.
É para os bons confusão
ver que os maus prevaleceram;
posto que se detiveram
com esta simulação,
sempre castigos tiveram. (...)




terça-feira, 19 de julho de 2011

Soneto

Soneto é um tipo de poema que tem forma fixa: dois quartetos e dois tercetos, ou seja, duas estrofes de quatro versos e outras duas de três versos. A Medida Nova (decassílabos em sonetos) foi introduzida em Portugal por Sá de Miranda e substituiu o gosto artístico da época, que era o uso das redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas poéticas), chamadas de Medida velha. Leia este soneto de Camões:


Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.


Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.


Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria




segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma Crônica Sobre Férias

Muitas pessoas têm me perguntado sobre a definição de crônica. Para atendê-las, quero recomendar a leitura desta crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre as férias. Crônica é isto: o cronista, partindo de um flash do cotidiano, tece uma reflexão pertinente e carregada de personalidade sobre um tema tão comum. E Drummond sabia fazer isso muito bem. Leia:

TIRAR FÉRIAS

A noção de férias está ligada a figuras de viagem, esporte, aplicações intensivas do corpo; quase nada a descanso.
As pessoas executam durante esse intervalo aquilo que não puderam fazer ao longo do ano; fazem "mais" alguma coisa, de sorte que não há férias, no sentido religioso e romano de suspensão de atividades. Matutando nisso, resolvi tirar férias e gozá-las como devem ser gozadas: sem esforço para torná-las amenas. A idéia de viagem foi expulsa do programa: é das iniciativas mais comprometedoras e tresloucadas que poderia tomar o trabalhador vacante. As viagens ou não existem, como é próprio da era do jato, em que somos transportados em velocidade superior à do nosso poder de percepção e de ruminação de impressões, ou existem demais como burocracia de passaporte, filas, falta de vaga em hotel, atrasos, moeda aviltada, alfândega, pneu estourado no ermo, que mais? Quanto à prática de esportes, sempre julguei de boa política deixá-la entregue a personalidades como Éder Jofre, Maria Ester Bueno ou Pelé, que dão o máximo. A performance desses ases satisfaz plenamente, e não seria eu num mês de férias que iria igualá-los ou sequer realçá-los pelo contraste. Bem sei que o esporte vale por si, não pelos campeonatos; mas também, como passatempo, carece de sentido. Pescar, caçar pequenos bichos da mata? Nunca. Se esporte e morte acabam pelo mesmo som, para mim nunca rimaram. Havia também os trabalhos, os famosos trabalhos que a gente deixa para quando repousar dos trabalhos comuns. Organizar originais de um livro. Escrever uma página de sustância (está pronta na cabeça, falta só botar o papel na máquina!). Pesquisar em arquivos. Arrumar papéis. Mudar os móveis de lugar. E os deveres adiados, tipo "visitar o primo reumático de Del Castilho". A idéia de conhecer o Rio, conhecer mesmo, que nos namora há 20 anos: tomar bondes esdrúxulos, subir morros, descobrir lagoas de madrugada. Por último, o sonho colorido dos gulosos, sacrificados durante o ano: comer desbragadamente pratos extraordinários, sem noção de tempo, saúde, dinheiro. Tudo aboli e fiz a experiência das férias propriamente ditas, que, como eliminação das atividades ordinárias e exteriores, pode parecer estado contemplativo ou exercício de ioga. Não é nada disso. Exatamente porque abrem mão de tudo, as boas férias não devem tender à concentração espiritual nem à contenção da vontade. São antes um deixar-se estar, sem petrificação. Levantar se mais tarde? Se não fizer calor; um direito nem sempre é um prazer. Ir ao Arpoador? Se ele nos chama realmente, não porque a manhã e a água estão livres. O mesmo quanto a diversões, muitas vezes menos divertidas do que a noção que temos delas.
Divertir-se é desviar-se, e não convém que nos desviemos das férias, enchendo o tempo com programas de férias. Deixemos que ele passe, sutil; não o ajudemos a passar. Há uma doçura imprevista em sentir-se flutuar na correnteza das horas, em sentir-se folha, reflexo, coisa levada; coisa que se sabe tal, coisa sabida mas preguiçosa. Se me pedirem para contar o que fiz afinal nestas férias, direi lealmente: ignoro. Aos convites disse não, alegando estar em férias, alegação tão forte como a de estar ocupadíssimo. O pensamento errou entre mil avenidas, não se deteve em nenhuma; cada dia amadureceu e caiu como um fruto. Nada aconteceu? O não acontecimento é a essência das férias. E agora, é trabalhar duro onze meses para merecer as inofensivas e deliciosas férias do não.
(Carlos Drummond de Andrade, Cadeira de Balanço,
13a. Edição, Livraria José Olympio Editora)



quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Polícia da Língua" - 4

Veja o anúncio típico do período junino fazendo jus ao que anuncia: "bolos caipira" por escrito pega mal, a menos que tenha sido uma estratégia de marketing para fazer crer que o bolo é genuinamente caipira...

Mas essa possibilidade não resiste a outro problema de norma culta que aparece no cartaz: nunca há crase antes de verbo, de forma que "A partir de ..." está grafado incorretamente.

Quero ainda ressaltar que não se devem colocar bolas nos is, mas pingos!

Só para constar: um cartaz assim como esse pertence ao gênero textual propagandístico e, por isso, deve ser sempre bem elaborado para que consiga cumprir seu objetivo, que é o de convencer o público de que vale a pena adquirir o produto anunciado. O meio (e o modo) continuam sendo a mensagem...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Conotação e Denotação


Liguagem denotativa é aquela em que se usam as palavras em seu sentido literal ou mais comum. Para exemplificar, leia o texto abaixo de Carlos Drummond de Andrade:
"A História de Chapeuzinho Vermelho sempre me pareceu mal contada, e não há  esperança de se conhecer exactamente o que se passou entre ela, a avozinha e o lobo.
Começa que Chapeuzinho jamais chegara depois do lobo, à choupana da avozinha. Ela vencera na escola o campeonato infantil de corrida a pé, e normalmente não andava a passo, mas com ligeireza de lebre. Por sua vez, o lobo se queixava de dores reumáticas, e foi isto, justamente, que fez Chapeuzinho condoer-se dele.
Estes são pormenores da história, ouvida por Tia Nicota, no começo do século, em Macaé. Segundo ali se dizia, Chapeuzinho e o lobo fizeram boa liga e resolveram casar-se. Ela estava persuadida de que o lobo era um príncipe encantado, e que o casamento o faria voltar ao estado natural. Seriam felizes, teriam gêmeos. A avozinha opôs-se ao enlace, e houve na choupana uma cena desagradável entre os três. O lobo não era absolutamente príncipe, e Chapeuzinho, unindo-se a ele, transformou-se em loba perfeita, que há tempos ainda uivava à noite, nas cercanias de Macaé".
 Aqui, a correlação lobo uivava está sendo usada em seu sentido literal, pois uivar é característico de lobos. Assim, dizemos que o uso do verbo uivar, nesse contexto, é denotativo. Já a linguagem conotativa é aquela em que se emprega um termo de forma figurada. Compare a passagem acima de Drummond com o seguinte excerto de Érico Veríssimo:
          
"Era uma melodia lenta e meio fúnebre. O agudo do som do instrumento penetrou Ana Terra como uma agulha, e ela se sentiu ferida, trespassada. Mas notas graves começaram a sair da flauta e aos poucos Ana foi percebendo a linha da melodia... Reagiu por alguns segundos, procurando não gostar dela, mas lentamente foi se entregando e deixando embalar. Sentiu então uma tristeza enorme, um desejo amolecido de chorar. (...)
De repente Ana Terra descobriu que aquela música estava exprimindo a tristeza que lhe vinha nos dias de inverno quando o vento assobiava e as árvores gemiam - nos dias de céu escuro em que, olhando a soledade dos campos, ela procurava dizer à mãe o que sentia no peito, mas não encontrava palavras para tanto. Agora a flauta do índio estava falando por ela..."   

Todos hão de concordar com o fato de que vento não assobia nem árvore geme. Esse recurso usado pelo grande escritor Érico Veríssimo se chama prosopopeia ou personificação, uma figura de linguagem que consistem em, figurativamente, atribuir características humanas a seres inanimados. Trata-se de um claro exemplo de conotação.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Peão ou Pião?


Já ouviu falar em Festa do Peão? E Festa do Pião? Parece que na língua oral as duas palavras são pronunciadas do mesmo modo, e isso gera uma certa confusão na hora de escrevê-las.

Escrevemos pião (com i) quando nos referimos ao brinquedo que gira. Porém, se queremos fazer menção àquele trabalhador rural que conduz a boiada, amansa bestas, burros e cavalos, então o certo é escrever com e: peão. Essa palavra entrou no português pelo espanhol peón.

E, já que estamos falando em etimologia, quero registrar aqui que há em nossa língua a palavra peão oriunda do latim pedone e significa pedestre. Encaixam-se nessa versão os soldados e também a peça do jogo de xadrez.

Contudo, talvez o mais pitoresco seja mesmo a forma feminina que se recomenda para peão: pode ser peona...ou peoa! Escolha à vontade, só não confunda com peã, que vem do latim paean derivado do grego pian, e que é um hino a Apolo.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Berinjela, Maisena e Ortografia

Será que a grafia correta de berinjela é com j (como escrevi) ou é com g? A pergunta soa vazia, não é mesmo? Se fosse com g, eu não teria escrito com j... Mas o fato é que me fizeram essa perguntinha poucos dias atrás, e ela me fez refletir sobre a questão da dificuldade ortográfica que muitos sentem.

Para começar o assunto, é bom lembrarmos que as regras ortográficas são arbitrárias, isto é, foram estabelecidas em um dado momento, geralmente quando se sentiu que se deveria padronizar a escrita. Vale ressaltar, porque estamos nessa trilha, que nem sempre houve uma grafia padrão para o Português, e isto também vale para a imensa maioria dos idiomas.

O fato é que, pela necessidade de uniformização da escrita (que não cabe neste espaço trazer os detalhes), estabeleceram-se as normas ortográficas, que, via de regra, sofrem mudanças (também arbitrárias) de vez em quando. Há não muito tempo, maisena era frequentemente grafada como está na caixa do produto que leva esse nome: maizena. Modernamente, só se aceita grafá-la com s.

Acho que muitos têm dificuldade ao escrever certas palavras porque só as usam na fala. Quando se deparam com a necessidade de escrevê-las, acabam em dilema: é sessenta ou é sescenta? Logicamente é sessenta! Escreve-se seiscentos ou seissentos? Neste caso é seiscentos o correto.

Para finalizar esta breve reflexão, e a título de curiosidade, a palavra berinjela é de origem persa (badnjan) e entrou no vernáculo pelo árabe (badinjanâ). Já a palavra maisena vem da forma do taíno maís (tipo de milho graúdo) e entrou no Português pelo espanhol maíz. Perceberam por que se grafou com z por muito tempo?


quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Que É Clivagem?

Clivar está associado a dividir. O substantivo correspondente a esse verbo, clivagem, tem uso em diversos ramos do conhecimento humano. Em psicologia, clivagem é uma espécie de cisão na organização psicológica do ser em nível de ego, em geral como mecanismo de defesa.  Em mineralogia, refere-se à fragmentação dos  mineirais; em biologia, remete à divisão celular dos embriões; nas ciências sociais, diz-se que clivagem é a separação que ocorre entre grupos sociais por razões diversas.

Em Linguística, clivagem é um recurso de realce: a clivagem coloca em destaque um elemento da frase. Para entender melhor, considere como forma básica:"Quero dormir". A correspondente clivada dela é "É dormir que eu quero". Outro exemplo: "Maria fez a torta". Clivada, fica: "Foi Maria que fez a torta".

Tecnicamente, a clivagem é o encaixamento de uma estrutura relativa em uma dada frase pelo uso do verbo ser mais a palavra que ou quem, de tal forma que o sintagma nominal da frase relativizada é retirado ou extraído, mais tecnicamente dizendo. A clivagem é, obviamente, um recurso importante na sintaxe do português moderno, e seu estudo tem contribuído muito para a elucidação das relações de correspondência ou de afinidade sintática de que se ocupa a Gramática Descritiva.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Que É Verbo Impessoal?

É comum que se definam os verbos impessoais como aqueles que não têm sujeito. Acho que você já encontrou essa definição em algum livro ou material didático. Embora essa explicação não seja de todo precisa e criteriosa, ela dá conta de esclarecer que os verbos que são núcleos de uma oração sem sujeito são classificados de impessoais, pois  não concordam com nenhuma palavra. Por isso, eles são usados na terceira pessoa do singular.

Exemplos de verbos impessoais:

 1- Haver (no sentido de existir) - carros na garagem. / Havia flores no vaso.

2- Fazer (indicando tempo pretérito) - Faz anos que ele se mudou para Roma.

3- Verbos que expressam fenômenos (chover, nevar, gear, chover, relampejar, trovejar, ventar).

Choveu muito ontem.
 Nevará amanhã, segundo a previsão do tempo.
 Geou no Rio Grande do Sul no fim de semana.
 Venta muito nas regiões altas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Que é Logorreia?

Sempre uso a palavra logorreia porque ela desperta curiosidade e, não raramente, risos. Talvez por algum tipo de analogia, quem sabe... Mas não são muitos os que têm a iniciativa (ou a coragem) de perguntar explicitamente o significado dessa palavra.

Etimologicamente, logorreia vem do grego, em que lógos significa palavra e rhoía significa fluxo: daí logorreia, um verdadeiro derramamento verbal, uma incontinência de palavras, sem nenhuma cerimônia. Quem tem logorreia, em geral, não respeita a noção de lógica na apresentação do fluxo de ideias; nem mesmo se importa com a pertinência delas para a situação comunicativa em que está.

A logorreia pode ocorrer tanto na fala quanto na escrita, e é um fator de humor nas ocasiões em que dá o ar da graça... O texto logorreico é confuso e frequentemente cansativo por causa do acúmulo de informações.

Contra ela, o remédio é a máxima árcade: inutilia truncat (corte tudo o que é inútil, seja na fala, seja no texto escrito).

Veja também: "Prolixidade"




segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Polícia da Língua" - 3

Em um Shopping Center muito famoso, certa loja de grife renomada exibia, há algum tempo, o cartaz que reproduzi ao lado. Veja como falta um acento: segundo a regra de acentuação, todas as paroxítonas terminadas em i ou is devem receber acento. Assim, táxi, táxis, lápis e biquíni(s) são palavras que não dispensam o acento na penúltima sílaba. Vale a pena saber de memória as regras de acentuação!


Veja também: "Polícia da Língua" - 2

quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Polícia da Língua" - 2

Flagrei esta placa em franca desobediência às regras de concordância nominal. Percebeu?

A regra é bem clara quanto ao uso da palavra "Proibido":

1- Se antes do nome houver um artigo, então Proibido concorda com o substantivo.

 Exemplo: "É proibida a permanência na sala de reuniões após a sessão . "

2- Porém, se não houver artigo antes do substantivo com o qual Proibido se relaciona na frase, esse adjetivo não varia.

Exemplo: "É proibido permanência na sala de reunião após a sessão."

Assim, do ponto de vista da norma culta escrita, o correto seria: "Proibida a entrada e a permanência de ambulantes no condomínio"

Vou deixar de lado, aqui, a questão da pertinência ou não de levar Proibida para o plural.

Mas na placa acima ainda há uma ressalva quanto à crase: quem está sujeito, está sujeito a algo. Este a é uma preposição. Logo após esta preposição, pode ocorrer um artigo a ligado à palavra apreensão: Sujeito aa (preposição + artigo) apreensão. Logo, mais aceitável é escrever Sujeito à apreensão, uma vez que no Português moderno usamos o acento grave para indicar a ocorrência da fusão (crase) de dois as.

Veja também: "Polícia da Língua" - 1


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Verbo de Ligação

Verbo é a palavra que pode ser conjugada. Dentre os verbos, há aqueles que são tradicionalmente classificados como verbos de ligação, ou seja, aqueles que (como encontramos em muitas gramáticas e livros didáticos) "servem" para ligar uma qualidade ao sujeito. São verbos que não denotam ação, mas apontam para um estado de coisas, como no exemplo: "A  moça é inteligente".

Aqui vai a lista dos principais verbos que podem ser de ligação: ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, andar, tornar-se, virar.

Esses verbos, logicamente, só funcionam como verbos de ligação em determinados contextos. Compare:

1- O cozinheiro virava uma fera toda terça-feira.

2- O cozinheiro virava os peixes na frigideira toda terça-feira.

Na frase 1, encontramos um verbo de ligação conectando o sujeito a uma qualidade metaforicamente construída (cozinheiro - fera). Já na frase 2 o verbo virar indica uma ação, um ato de cozinha, pois obviamente o cozinheiro não se tornava peixes às terças-feiras, mas fritava os peixes, virando-os na frigideira. Concorda?



terça-feira, 28 de junho de 2011

O que é Fábula?

Fábula é uma narrativa alegórica, geralmente curta, de origem oriental, em que se usam animais antropomorfizados para protagonizar um enredo de fundo moral.

Na Antiguidade Clássica, Esopo e Fedro fizeram nome nesse gênero. Mais modernamente, La Fontaine é o grande fabulista. No Brasil, Monteiro Lobato destaca-se no gênero.

As fábulas têm estrutura muito simples, e vários níveis de interpretação. Uma criança apreende com facilidade seu conteúdo mais concreto, e se diverte com ele. A mesma fábula, para um adulto, pode conter conceitos mais profundos quando se recuperam adequadamente as relações abstratas sugeridas entre os temas e as figuras da narrativa.

Veja como a Historiadora Marta Iansen usou uma conhecida fábula de Esopo para tecer uma reflexão historicamente pertinente: "O Que Esopo Tinha a Dizer Sobre as Relações Entre Desiguais".

Atualíssima a análise, não acharam? Literatura é isso: conexões.





segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Que É Prolixidade?

Sabe aquele texto enrolado, obscuro e quilométrico? Pois bem: ele é considerado um texto prolixo. Prolixidade é, assim, a capacidade (!!) que alguns têm de usar palavras em excesso para expressar poucas ideias. Ela torna o texto cansativo, enfadonho e obscuro. Algumas vezes, deixa passagens até engraçadas. Mais que um vício (como costuma ser classificada), a prolixidade é uma característica que pode ser modificada com técnicas especiais. Veja o exemplo abaixo, extraído de uma redação feita a partir de tema do Vestibular Unicamp 2002 e divulgado no site da Convest como exemplo de redação anulada:




"Devemos ter em mente que por trás de inocentes crianças, encontra-se um adulto, que tem por finalidade receber um capital, sem que esse dependa de seus próprios esforços. Certas atitudes exdrúxulas de adultos exploradores faz com que o futuro de nosso país (que são nossas crianças) vá imergindo num “oceano” de problemas, onde a solução para tais equívocos fique mais distante do que já se encontra".



Notaram como o trecho acima faz pouco sentido? Obviamente a anulação do texto não se deveu à prolixidade, mas este é um de seus problemas. A prolixidade pode, sim, "nocautear" a clareza do seu texto!

Algumas dicas para você evitar que seu texto seja prolixo:

1- Evite as inversões sintáticas pedantes e artificiais;

2- Escolha a simplicidade no uso da linguagem, dispensando expressões preciosas e rebuscadas somente para impressionar. A linguagem dissertativa, embora elaborada, deve parecer natural;

3- Seja objetivo e direto. Nada de expressões redundantes, nem palavras desnecessárias.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pigarro ou Pigarra?

As duas palavras existem na Língua Portuguesa. A diferença entre elas é o sentido:

1) Pigarra é uma espécie de doença que acomete aves, especialmente os galináceos;

2) Pigarro é catarro na garganta, algo específico do ser humano.

Assim, quem tem pigarra é galinha; pessoa tem pigarro na garganta!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Que é Gramática Tradicional?

Chamamos de Gramática Tradicional do Português o conjunto de regras, de reflexões e de classificações a respeito dessa língua, especialmente produzido nos moldes gregos e latinos. Por isso, calca-se a priori na manifestação escrita da linguagem, tomando como referência os escritores de renome que, segundo se considera, são exemplos dignos de imitação para se usar bem o idioma.

A Gramática Tradicional é, portanto, de cunho prescritivo: receita modos de expressão e distingue o certo do errado.  Sua preocupação não está em descrever os usos possíveis da língua, mas em  preservar e indicar como corretos e aceitáveis os usos tradicionalmente eleitos como paradigmas.

Obviamente, a Gramática Tradicional tem sido empregada como normatização do uso da Língua Portuguesa em situações formais. É nessa modalidade que estão escritos os trabalhos científicos e quase que a totalidade do conhecimento acumulado pelas nações de fala portuguesa.

Dominar os preceitos da Gramática Tradicional é pré-requisito para que se consigam compreender as obras literárias, especialmente as produzidas até o século XIX e inícios do século XX, bem como os compêndios de leis e tratados da civilização. A cidadania tal qual a conhecemos só é possível plenamente àqueles que são capazes de se valer desse código tradicional, que dá acesso às regras que regem a sociedade e as relações nela vigentes.



terça-feira, 21 de junho de 2011

O que é Onomatopeia?

Onomatopeia é um processo linguístico que consiste em uma tentativa de reproduzir na linguagem humana sons provenientes do ambiente ao redor. Tente localizar uma onomatopeia no excerto abaixo, extraído de Dom Casmurro (Machado de Assis):


"Com o tempo veio um fenômeno interessante. Pádua começou a falar da administração interina, não somente sem as saudades dos honorários, nem o vexame da perda, mas até com desvanecimento e orgulho. A administração ficou sendo a hégira, donde ele contava para diante e para trás.
--No tempo em que eu era administrador...
Ou então:
--Ah! sim, lembra-me, foi antes da minha administração, ou um dous meses antes... Ora espere; a minha administração começou. É isto, mês e meio antes; foi mês e meio antes, não foi mais".

Se você indicou a expressão Ah como onomatopaica, você acertou. Essa intejeição é originada na tentativa de imitar um som que emitimos para expressar espanto ou admiração, ou ainda alegria e contentamento, ou outras emoções que o contexto define bem.

As onomatopeias, de forma geral, são compreendidas universalmente porque reproduzem e imitam ruídos, sons relativos à natureza, à expressão humana,  ao canto de aves e grunhidos de animais. Elas são, ao mesmo tempo, uma figura de linguagem e um processo de formação de palavras novas. Assim, vocáblulos como bentevi, xixi e vuvuzela têm um toque onomatopaico inegável!







segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ao Invés De ou Em Vez De?

Parece absurdo, mas é verdade: já ouvi (mais de uma pessoa) dizer que sempre usa a expressão ao invés de porque a considera chique... Mas as palavras, nesse sentido, são como as roupas: só são chiques se estiverem adequamente utilizadas. Vamos desfazer a confusão entre ao invés de e em vez de. Para isso, analise comigo:

"Ao invés de revelar a alma, as palavras podem escondê-la, à vezes."

Será que neste contexto cabe ao invés de? Sim, certamente é essa expressão que devemos usar, pois ao invés de significa ao contrário. Deve ser usada sempre que houver elementos em oposição, como no caso acima (revelar / esconder ).

Porém, em vez de sempre quer dizer em lugar de. Veja como Machado de Assis usou esta expressão:
"Contei-lhes o namoro das andorinhas de fora, e acharam-lhe graça; Escobar declarou que, para ele, seria melhor se as andorinhas, em vez de trepadas no fio de arame, estivessem à mesa do jantar cozidas."

Resumindo: Ao invés de significa ao contrário deEm vez de significa em lugar de.
Para terminar, é bom lembrar que em vez de funciona em qualquer uma das situações, com ou sem oposição de ideias. Na dúvida, use-a em vez de errar!


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Polícia da Língua - 1

Em minhas andanças por este mundo, tenho colecionado verdadeiras pérolas quanto ao uso da norma culta escrita. Há algum tempo, em trânsito pelo interior do país, assustei-me com este painel de anúncio:

Vejamos: há um momento hilariante quanto ao uso da norma culta. Todos sabemos (ou deveríamos saber...) que, na escrita, não fica bem usar plural em apenas um dos elementos do sintagma, ou seja, não é adequado anunciar um produto ou serviço ostentando uma falha na concordância. Não dá para relevar "Estruturas Metálica", não é verdade?

Mas certamente este não é o único problema do anúncio ao lado: há outro que é, no mínimo, bizarro. Existe uma diferença muito grande entre Mosquiteiro e Mosqueteiro, não é? Mosquiteiro é uma espécie de dispositivo para impedir que mosquitos entrem, por exemplo, pela janela. E, logicamente, mosqueteiro é aquele que manuseia um mosquete, ou seja, uma arma de luta. O que seria, então, uma "tela mosqueteira"? Teria ela o poder de manipular um mosquete (e ao final dizer "touché"?).

Já pensou se a moda pega e  Os Três Mosqueteiros passam a ser Os Três Mosquiteiros (no combate, por exemplo, à dengue...)?


Veja também:

2- "Polícia da Língua" - 2
3- "Polícia da Língua" - 3
4- "Polícia da Língua" - 4
5- "Polícia da Língua" - 5








quarta-feira, 15 de junho de 2011

Apêndice Estuporado?

Você já ouviu dizer que alguém está com o apêndice estuporado? Bem, confesso que já ouvi essa bobagem algumas vezes, e precisei me segurar para não rir diante de notícia tão triste. Afinal, apendicite não é algo que se deseja a ninguém, não é mesmo?

Mas a questão é que não há apêndice estuporado, a menos que se queira dizer que o apêndice está tomado por estupor, paralisado. 
Porém, se a informação que se deseja transmitir é a de que o apêndice está vertendo pus, então o correto é usar o adjetivo supurado. Pus, sabe? Aquela substância amarelada que indica a presença de infecção.

Pois bem, não esqueça: Estuporado significa entorpecido, paralisado, em estado de estupor. Supurado refere-se a algo que está purulento.



terça-feira, 14 de junho de 2011

Epígrafe: O Que É e Como Usá-la

O QUE É UMA EPÍGRAFE


Epígrafe, na antiguidade, eram inscrições feitas (especialmente pelos gregos e romanos) em pedras e monumentos. Porém, na atualidade, chamamos de epígrafe trechos de textos de outros autores que se costumam usar como indicativo de inspiração para um capítulo de um livro, ou para um poema, ou ainda para uma redação escolar. Epígrafe é, portanto, uma espécie de lema ou de bandeira que se coloca como um pré-texto, indicativo do assunto que será abordado ou do viés ideológico que predomina no texto.

COMO USAR A EPÍGRAFE

Uma epígrafe deve ser usada apenas se seu conteúdo mantiver uma relação pertinente com o conteúdo do texto que a segue. Caso não haja um vínculo temático entre a epígrafe e a obra que ela introduz, seu uso parecerá um jogo de retórica vazio, como se a pessoa que o usou quisesse demonstrar conhecimento.

A epígrafe deve ser citada textualmente entre aspas e deve conter a autoria e/ou a fonte de origem.

EXEMPLO DO USO DE EPÍGRAFE

"Veux-tu donc partir? Le jour est encore éloigné
C'était le rossignol et non pas l'aloustte
Dont le chant a frappé ton oreille inquiete;
Il chante la nuit sur les branches de ce grenadier,
Crois-moi, cher ami, c'était le rossignol".
    
                                   (SHAKESPEARE)

 
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito
— Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
... Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se à estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,

Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."
E noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua —
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada

Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
CASTRO ALVES, poeta da terceira geração
do Romantismo brasileiro.
Neste poema, Castro Alves usou uma
passagem de Shakespeare, em francês, como epígrafe
para seu texto poético.
Das teclas de teu seio que harmonias,

Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa-noite!, formosa Consuelo!...